Quem é empresário sabe: um dos principais desafios relacionados ao crescimento da empresa é o de reter talentos. A companhia pode até “rodar” normalmente enquanto os seus fundadores ainda estão na sociedade. Mas é preciso que ela funcione também sem eles. É isso que garante a perpetuidade de suas atividades.
Pensar no futuro do negócio não é tarefa fácil. O desafio de sucessão é um dos principais motivos, inclusive, para que os empresários cogitem passar por uma operação de M&A (Fusões e Aquisições). A solução para o problema pode, de fato, estar na venda da empresa. Mas nem sempre esse é o único caminho.
Talvez você já tenha ouvido falar sobre o modelo “inovador” de gestão utilizado por empresas como os bancos Garantia e BTG Pactual, a XP Investimentos ou a Ambev. Baseado na meritocracia e através de regras pré-ajustadas, ele confere aos colaboradores a oportunidade de se tornarem sócios do negócio. Esse modelo, criado pelo banco americano Goldman Sachs e importado para o Brasil pela primeira vez na década de 70, é chamado de Partnership.
Muito mais do que um modelo criado para resolver eventuais problemas de sucessão, o Partnership é um dos grandes responsáveis por despertar nos empregados o chamado “sentimento de dono” e por alavancar o crescimento das empresas que o adotam. Por isso tem ganhado tanta notoriedade nos últimos tempos. Segundo o próprio BTG, um dos pioneiros do Partnership no país, o modelo é a chave para o sucesso do banco.
Ainda que seja muito usado em empresas de grande porte, não é certo dizer que o Partnership é uma política exclusiva das grandes corporações. Muito pelo contrário: dia após dia as organizações familiares têm despertado cada vez mais o interesse em sua adoção justamente por conta da excelente combinação de benefícios de curto e de longo prazo.
O Partnership pode ser o recurso que a sua empresa está precisando para ir além. Pensando nisso, confira abaixo o que você precisa saber sobre esse sistema:
Como funciona o Partnership?
O Partnership funciona, em termos gerais, como um programa de incentivo que se baseia na dedicação e na entrega do empregado para o efetivo crescimento da empresa.
Por meio desse modelo, caso atinja os resultados esperados, o colaborador poderá adquirir o direito de se tornar sócio.
Na prática, o que se pretende é “premiar” com o direito de adquirir quotas da empresa quem a ajudou a crescer, sem que, para tanto, outros sócios saiam prejudicados – isso porque, com o resultado gerado pelo novo sócio, uma participação societária proporcionalmente menor não significaria uma redução nos lucros auferidos, mas um aumento.
Engana-se quem pensa que o Partnership é baseado apenas na entrega de resultados financeiros. Pelo contrário: parte-se da premissa de que nem todo bom colaborador é apto a se tornar sócio.
Na verdade, o plano de Partnership é construído de maneira a contemplar tantos aspectos objetivos (entrega, captação de clientes, geração de receitas para a empresa) quanto subjetivos (alinhamento à cultura da empresa e “espírito de dono”, por exemplo). Métricas e metas relacionadas mais à performance da empresa do que do indivíduo são recomendáveis.
Esses aspectos são todos metrificados para que, ao final de cada ciclo (que pode ter a duração que for mais vantajosa para a empresa), seja possível avaliar o desempenho de cada colaborador pelas mesmas grandezas.
Quais as vantagens do Partnership?
Quais as desvantagens do Partnership?
Como aplicar na minha empresa?
Antes de decidir pela adoção do Partnership em uma organização, é necessário que todos os sócios entendam a premissa do plano, que é a de “dividir para multiplicar. Por vezes, a sua adoção pode ser barrada justamente porque nem todos os sócios concordam com a ideia de “perderem” participação societária. Daí a importância de uma boa orientação desde o início das tratativas.
Para que a implantação do programa funcione adequadamente e para que ele se mantenha de pé, é necessário que suas bases estejam muito bem consolidadas. Quanto mais estável for o plano, melhor. Quanto menos mudanças, mais aceitação ele terá entre os colaboradores.
Por isso, é preciso que as metas (financeiras e não financeiras) sejam muito bem metrificadas. Não há segredo neste ponto: a “régua” precisa ser a mesma para todos, e os interesses de nenhum sócio em particular podem estar acima dos interesses da organização.
Os indicadores a serem consultados quando da avaliação dos colaboradores devem ser construídos de acordo com o que mais faz sentido para a empresa. Cada caso é um caso. Podem ser usados, por exemplo, indicadores relacionados a performance, cargo, cultura e constância do empregado.
Ao optar pelo Partnership, alguns documentos importantes devem ser elaborados. Recomenda-se, em geral, a revisão da estrutura societária, a alteração do estatuto/contrato social, a elaboração/revisão de acordo de acionistas/quotistas e a elaboração de um contrato de compra e venda de ações/quotas (podendo ser utilizados opções, vesting, cliff, etc). Tudo deve ser amarrado com uma avaliação da empresa (valuation) e mecanismos de proteção contra equívocos (cláusulas de saída, good leaver ou bad leaver, etc).
Além disso, é necessário que se defina, também, os critérios de remuneração tanto dos acionistas/quotistas quanto dos colaboradores. Ter esses critérios bem estruturados faz com que os empregados saibam de suas reais perspectivas de crescimento e do caminho a ser trilhado para que ascendam de cargo.
Por fim, o comitê de implantação do plano deverá, com base na realidade da empresa, analisar e definir os aspectos estruturais do negócio. A forma de admissão dos novos sócios/acionistas (se por aumento do capital social ou se por transferência de quotas/ações de outros sócios/acionistas) e se o Partnership abrangerá o capital em todo ou em parte, por exemplo.
A partir dessas definições, que são feitas essencialmente pelos próprios empresários, o plano é elaborado. Daí, passam a viger na empresa as regras do Partnership.
O mundo dos negócios já não é o mesmo daquele do início do século. O que antes eram verdades irrefutáveis, hoje não passam de alternativas ao novo. Com o Partnership, a antiga estrutura de gerência piramidal da empresa dá lugar a uma outra, mais horizontal, que busca crescer em conjunto com seus colaboradores.
Por Jade Fioravante e Marlos Nogueira.